I have seen more than I remember, and remember more than I have seen
Benjamin Disraeli
No início de O Cortesão, texto escrito em Urbino, no ano de 1528, por Baldessari Castiglioni para instruir os jovens do Renascimento, o Conde, personagem empenhada no testemunho dos valores da cortesia e da elevação, defende um dos mais extraordinários «louvores à música», relembrando-nos «quão grandemente ela foi honrada no mundo antigo, onde foi tida como sagrada, de modo que os mais sábios filósofos sustentaram a opinião de que o Universo foi feito de música, que os céus, ao moverem‐se, produziam harmonia, e que as nossas próprias almas foram formadas pelo mesmo princípio, e trazidas à vida através da música.» Recordo estas palavras para evocar Viena, a cidade da música na sua forma clássica, que simboliza o centro do Universo na manifestação dessa linguagem abstrata, responsável pela ascensão do espírito para lá de todas as circunstâncias terrenas. O apelo inevitável da música e a transcendência do que nela se experimenta produz em nós o efeito de uma comoção. Lembro, como se fosse hoje, o concerto de violinos a que assistimos em contexto turístico, e a imagem do meu pai a chorar, enquanto filmava para memória futura…Disse-me apenas isto: «gostava tanto que a minha mãe pudesse estar aqui connosco e ouvir esta maravilha, este privilégio». Um modo humilde, mas sincero, de mover os céus, de experimentar uma espécie de harmonia cósmica e completa, o «louvor à música».