2021 a pequena memória das grandes cidades Tournai

a pequena memória das grandes cidades

I have seen more than I remember, and remember more than I have seen

Benjamin Disraeli

 

Em meados de Janeiro de 2021, numa das salas dos Musées Royaux des Breaux-Arts de Belgique (Bruxelas), deparo-me com essa pequena mas belíssima pintura que é “Lamentação – Pietá” (c. 1441), e verifico com surpresa que o grande pintor flamengo, Rogier van der Weyden, nasceu em Tournai, provavelmente em 1399. Lembrei de imediato a minha breve passagem, uns dias antes, por essa discreta cidade belga, sobretudo a generosa praça adjacente à estação de comboios, a Place Crombez. A caminho de Lille, enquanto esperava pelo cavalo de ferro que me faria entrar no norte de França, não resisti a calcorrear algumas ruas de Tournai. Viajar significa também o caminho mágico e cintilante do exercício da memória, no cruzamento, mesmo que precário, entre a nossa existência, a geografia comum e a temporalidade distante vivida por aqueles que admiramos. Note-se que, antes de se fixar em Bruxelas, Van der Weyden trabalhou no seu atelier de Tournai, entre 1427 e 1435. Nesta cidade, não consegui ver duas excelentes pinturas de Édouard Manet que estão expostas nas paredes do belo Musée des Breaux-Arts, exemplo da transição entre o modernismo de inspiração art nouveau e a “Art Deco”, desenhado por Victor Horta. Aqui hei-de regressar, um dia, para os poder apreciar.