I have seen more than I remember, and remember more than I have seen
Benjamin Disraeli
No seu sentido mais profundo, Sarajevo será, acredito, um magnífico antídoto para a escuridão que existe no mundo. Apesar da sombra no assassinato do herdeiro do imperador austro-húngaro, encontro nesse vale imenso uma floresta de minaretes, a metáfora ou o espelho de uma fusão harmoniosa, plena de pináculos, cheiros e convivas aos abraços. Mas para além das mesquitas reconstruídas ou das honestas linhas de arquitetura que hoje honram a cidade balcã, deparo-me igualmente com os sinais da guerra nas paredes esburacadas dos muitos edifícios ainda por arranjar, espécie de memória quotidiana do cerco à cidade, em meados dos anos 90. Como um oximoro visual, prevalece, porém, a imagem das rajadas de metralhadora ao lado das torres sineiras de emoção multiétnica, reafirmando assim séculos de história irmanados na diversidade. Persisto em acreditar na paz entre irmãos de cores, olhares e cultos com origens em pólvora diferenciada. Sacras palavras, distintas apenas na formulação do chamamento. Confirmo, sorrindo, o sentimento dessa renovada alegria cosmopolita. Estamos perante expressões de elevação e riqueza indomáveis que, apesar de não superarem, afinal, a memória do martírio ou do holocausto, prometem hoje um caminho de comunidade, um acerto com o futuro.