2019 a pequena memória das grandes cidades Helsínquia

a pequena memória das grandes cidades

I have seen more than I remember, and remember more than I have seen.

Benjamin Disraeli

 

A propósito de quatro dias em Helsínquia, vividos com um grupo de amigos em meados de Agosto de 2019, e perante uma tarde de sol sobre o luminoso “Auditório Finlândia” de Alvar Aalto, relembro uma mostra que, 20 anos antes, me envolveu e despertou o desejo de visitar a Finlândia. Comissariada no CCB, em Lisboa, por Marja-Riitta Norri, então directora do Museu da Arquitectura Finlandesa, e analisando ao pormenor sete magníficos edifícios, essa era uma exposição que, em 1999, comemorava o centenário do nascimento de um dos mestres fundamentais da arquitectura moderna: o finlandês Alvar Aalto (1898-1976). Procurando dar a conhecer a vasta obra de Aalto, a mostra permitia-nos compreender a consciência de obra total que sempre orientou os seus projectos. A partir desse entendimento, eram mostrados os materiais mais utilizados pelo arquitecto (madeira, tijolo e vidro), as razões das suas teorias sobre a importância construtiva da luz nos seus edifícios, ou o design de mobiliário por si desenvolvido tendo em vista uma muito particular harmonia modernista, que se afasta em definitivo da rigidez formal pretendida nos C.I.A.M. de Corbusier. Bem documentada (em fotografias, maquetas e desenhos originais), revelando um trabalho plural e didacticamente desenvolvido, a exposição procurava revelar as características fundamentais do pensamento arquitectónico de Alvar Aalto através dos seus edfícios mais marcantes: da famosa Villa Mairea ao Sanatório de Paimio, passando pelo Instituto Nacional de Pensões, pela Biblioteca da cidade de Viipuri, o “nosso” Finlandia Hall (1967-1975), ou ainda esse espaço arquitectónico plenamente integrado na Natureza que é a Igreja de Vuoksenniska. Nesses exemplos, Aalto revela toda a sua capacidade na adaptação do jargão modernista às especificidades paisagísticas da Finlândia. Aliás, o único senão em toda a sua obra é representado pelos seus projectos para os E.U.A., onde esta arquitectura não apresenta o mesmo acerto envolvente. De resto, Alvar Aalto surgia aí em todo o seu esplendor de unidade e harmonia, resgatando à Natureza a outra metade essencial para o sucesso da realização humana.