I have seen more than I remember, and remember more than I have seen
Benjamin Disraeli
Uma relutância alargada acompanhara desde cedo a ideia de visitar Pequim, essa imensa mas inconspícua cidade. Como uma urdidura que se tece nos bastidores do desejo, vagueei durante algum tempo entre a tímida vontade da presença corporal e a força da atração por essa história de privilégios concentrada no esplendor da Cidade Proibida. Afinal, um património arquitetónico desenhado para gaiola dourada, espécie de máquina de produzir mitos e mistérios. Para mim, Pequim há muito se dissipou no seu assombroso apelo de projeção permanente, exercida a contento e de permeio, entre o vermelho dominante e a sua população infinita. Por isso, afirmo: a Grande Muralha não é mais do que um exercício de reconstrução para edificar uma identidade maior, perdida nos confins de batalhas corridas pelo sangue de chineses e mongóis. Na memória dessas ameias, lembro ainda paisagens milenares que reacendem exércitos a perder de vista, distâncias e conquistas impossíveis, por mim, de imaginar.