2001 a pequena memória das grandes cidades Nova Iorque

a pequena memória das grandes cidades

I have seen more than I remember, and remember more than I have seen

Benjamin Disraeli

 

Na morte de Robert Frank, lembrei a minha primeira visita a Nova Iorque. De tudo o que aí vivi prevalece a memória de uma frase: «e se isto caísse um dia?» – inocente provocação dirigida às vertigens da minha mulher e do grupo de amigos que haviam subido comigo a Torre Sul do World Trade Center, na manhã do dia 28 de Abril de 2001, dezoito anos depois da sua abertura ao público e apenas cinco meses antes do seu inacreditável desmoronamento, acompanhado, poucos minutos depois, da queda da sua irmã gémea. Por vezes ainda penso na imponência das Twin Towers, inauguradas a 3 de Abril de 1973, no sul de Manhattan, para definirem o skyline da cidade que nunca dorme…

Na morte de Robert Frank, escrevi na minha página de facebook: «No dia 11 Setembro de 2001, Robert Frank levantou voo de Nova Iorque com destino a Lisboa, duas horas antes do ataque às Torres Gémeas. Chegou, consternado e abatido, para a inauguração da exposição Hold Still, Keep Going que lhe preparavamos no Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém. Os seus olhos tristes, nunca mais esquecerei. Assim como aquilo que me disse, quase em surdina: “só ganhei coragem para viajar pela grande amizade que me une ao Albano (da Silva Pereira). Mas se tivesse de vir no dia seguinte, não teria tido coragem suficiente. Sabe? Nova Iorque é a minha cidade, a minha querida cidade”. Faz amanhã precisamente 18 anos que lhe ouvi estas palavras, sentados junto à entrada da exposição, perto das suas magníficas fotografias. Nunca te esquecerei, querido Robert Frank. As tuas imagens vão continuar por cá, a interpelar-nos com essa poesia única, devolvendo-nos os lugares e as pessoas como nós, apanhados pela sapiência do teu olhar.» Nesse dia 10 de Setembro de 2019, chorei a sua morte, antecipando a lembrança dos milhares de inocentes que nesse 9/11 já longínquo perderam a vida aos olhos do mundo, no direto mais decisivo das nossas vidas, que ninguém mais esqueceu ou pôde esquecer. A data da morte de Robert Frank cruzou-se assim, como destino ou inevitabilidade, com a data da sua passagem por Lisboa e, necessariamente, com a do ataque terrorista a Nova Iorque, a cidade mais cosmopolita do planeta, que nesse dia acordou para uma estranha consciência de vulnerabilidade.