Há quem diga que George Lucas corre atrás dos dólares, mas há também quem garanta que a genuína intenção do realizador e produtor norte-americano é ainda a aliança entre a arte e o entretenimento. Quanto a mim, defendo apenas que Lucas nunca deixou de ser uma criança maravilhada com o seu “brinquedo”, juntando a isso um aproveitamento “escrupuloso” dos dividendos financeiros criados desde que o sucesso do primeiro episódio da saga ultrapassou todas as expectativas. Lembro aqui que “A Guerra das Estrelas”, apresentado pela primeira vez em 1977, custou cerca de 11 milhões de dólares, vindo a facturar, entre bilheteiras em todo o mundo e um mundo imenso de “merchandising”, mais de 460 milhões de dólares. Estava criado o mito “Star Wars” que haveria de acompanhar duas gerações em todo o planeta, transformando-se no mais popular exemplo de como uma história simples de guerra entre bons e maus resulta sempre a uma escala global e planetária.
Depois da famosa e bem trabalhada trilogia de “Star Wars” realizada entre 1977 e 1983 (“A Guerra das Estrelas”, “O Império Contra-ataca” e “O Regresso de Jedi”), George Lucas parece ter cedido à grande máquina em que se transformou o seu projecto original, convertendo-se numa espécie de “guru” dos efeitos especiais a que Hollywood pode aspirar. Este último episódio, “A Vingança de Sith” reduz-se ao aniquilamento final do potencial quase mitológico de “Star Wars”. Desbaratando aquilo que se constituía como matriz de sentimentos humanos “numa galáxia longínqua”, Lucas apresenta hoje apenas uma caricatura do que fez anteriormente, estonteando o espectador com “milhões” de efeitos especiais produzidos digitalmente, mesmo que alguns deles se apresentem como prodígios extraordinários, para retirar dele (do espectador) não a magia do grande cinema, mas antes o espanto da acumulação técnica. A magnitude dos personagens que fizeram a primeira trilogia (com destaque para Anakin e Luke Skywalker, a Princesa Leia Organa, Yoda, Obi-Wan Kenobi ou o maléfico Darth Vader) tem vindo a desaparecer desde as últimas etapas narrativas, marcadas sobretudo pelo deslumbre fácil em torno dos efeitos visuais e sonoros. Todos sabemos que uma das grandes virtudes de “Star Wars” reside precisamente, e desde a primeira hora, na magnífica exploração dos “efeitos”, ainda mais quando estamos a falar de um género como o da “ficção-científica”. Contudo, as maravilhas tecnológicas que hoje George Lucas tem ao seu dispor – nada mais, nada menos, que o melhor e mais sofisticado estúdio a nível mundial – reduziram o grande “conflito do universo” a uma brincadeira sem rumo nem projecção artística. De qualquer forma, é inegável o valor de Lucas ao ter criado um “mundo” próprio e de forte presença cultural, basta para isso lembrar o poder visual da grande “Millenium Falcon” (a nave espacial que protagoniza algumas das maiores vitórias da “Aliança Rebelde” contra o “Império”) ou esses inesquecíveis sabres luminosos, de cores fluorescentes e sons inconfundíveis, que fizeram e fazem ainda parte do nosso imaginário colectivo.
“Star Wars: Episódio III – A Vingança de Sith” (EUA, 2004) *
Realização: George Lucas
Actores principais: Ewan McGregor, Anthony Daniels, Samuel L Jackson, Natalie Portman e Silas Carson