Da longa lista de artistas Pop ingleses, Patrick Caulfield (n. 1936) mantém uma aura quase inviolável de dominador da imagem como citação. Como em Joe Tilson ou Peter Blake, e contrariamente à Pop americana, as pinturas de Caulfield não recusam a tradição clássica europeia, e as naturezas mortas surgem lado a lado com o mais moderno design de interiores, em espaços desenhados pela luz artificial das nossas cidades. Nesta obra há uma distinta individualidade que marca sempre, e indelevelmente, todo um percurso. Assumida em tonalidades fortes, delineadas a negro, os objectos da sociedade de consumo não são apenas a cereja no bolo, mas também, e sobretudo, o cenário de uma civilização onde só vale a imagem. A maioria dos artistas Pop sabia disso, e Caulfield desde cedo se aproximou da exuberância e da riqueza produzida pela industrialização e a consequente massificação do Ocidente. Por outro lado, o início dos anos 60 nomearam um sem número de referências culturais. As grandes metrópoles ostentavam definitivamente o néon, a persistência da vida nocturna, do lazer e dos prazeres. Pubs, cafés, foyers, restaurantes, salas de recepção ou escritórios são os espaços mais reconhecíveis e recorrentes na arte de Patrick Caulfield. Aí nos situamos de imediato, aí presenciamos o virtuosismo da colagem, alimentado quase sempre por uma forma explícita de alegoria. De outro modo, a festividade quase dramática dos campos cromáticos fazem desta pintura uma das imagens de marca da Pop Art britânica.
Seguindo a luz que se acende nesta pintura, a Pop Art ganhou uma espécie de subtil conciliação entre a modernismo de estilo e um estranho distanciamento como ténue herança do romantismo. Agora, em exposição organizada pelo British Council e pela Hayward Gallery, a Fundação Gulbenkian recebe um significativo conjunto de pinturas de um dos mais interessantes artistas da Pop europeia. Imperdível.
(versão original: in Agenda Cultural de Lisboa, Agosto de 1999)