1999 ‘pop’ caulfield Patrick Caulfield

‘pop’ caulfield

 

Da longa lista de artistas Pop ingleses, Patrick Caulfield (n. 1936) mantém uma aura quase inviolável de dominador da imagem como citação. Como em Joe Tilson ou Peter Blake, e contrariamente à Pop americana, as pinturas de Caulfield não recusam a tradição clássica europeia, e as naturezas mortas surgem lado a lado com o mais moderno design de interiores, em espaços desenhados pela luz artificial das nossas cidades. Nesta obra há uma distinta individualidade que marca sempre, e indelevelmente, todo um percurso. Assumida em tonalidades fortes, delineadas a negro, os objectos da sociedade de consumo não são apenas a cereja no bolo, mas também, e sobretudo, o cenário de uma civilização onde só vale a imagem. A maioria dos artistas Pop sabia disso, e Caulfield desde cedo se aproximou da exuberância e da riqueza produzida pela industrialização e a consequente massificação do Ocidente. Por outro lado, o início dos anos 60 nomearam um sem número de referências culturais. As grandes metrópoles ostentavam definitivamente o néon, a persistência da vida nocturna, do lazer e dos prazeres. Pubs, cafés, foyers, restaurantes, salas de recepção ou escritórios são os espaços mais reconhecíveis e recorrentes na arte de Patrick Caulfield. Aí nos situamos de imediato, aí presenciamos o virtuosismo da colagem, alimentado quase sempre por uma forma explícita de alegoria. De outro modo, a festividade quase dramática dos campos cromáticos fazem desta pintura uma das imagens de marca da Pop Art britânica.

Seguindo a luz que se acende nesta pintura, a Pop Art ganhou uma espécie de subtil conciliação entre a modernismo de estilo e um estranho distanciamento como ténue herança do romantismo. Agora, em exposição organizada pelo British Council e pela Hayward Gallery, a Fundação Gulbenkian recebe um significativo conjunto de pinturas de um dos mais interessantes artistas da Pop europeia. Imperdível.

 

(versão original: in Agenda Cultural de Lisboa, Agosto de 1999)