I have seen more than I remember, and remember more than I have seen
Benjamin Disraeli
Se, tal como nos lembra Hans Belting, «o museu é uma ilha do tempo e um lugar para coisas sem lugar», o tempo e as coisas que o habitam devem falar-nos à consciência, convertendo-o num templo de reflexão, no abraço de humanidade que a memória transporta. Em 2018, nos últimos dias de Outubro, visitei finalmente o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago do Chile. A experiência, apesar de desejada e programada, revelou-se surpreendente, inesquecível, superando todas as expectativas. Foi, confesso, das mais fortes emoções intelectuais por mim vividas num espaço museológico. E, no final da visita, percorridos os vários pisos desse edifício e as suas envolventes soluções museográficas, pensei: «a força de um museu reside na transformação dos seus objetos em verdadeiros instrumentos de memória». Neste caso, testemunhei a afirmação da memória como realização, quase corpórea, de uma profunda aliança com a história, na construção e partilha de um sentimento comum a todos os povos, onde prevalece o princípio da humanidade. Aí observei, até às lágrimas, a expressão do nosso direito mais instintivo e inegociável: a luta pela liberdade, e nela a dignificação maior do ser humano. Lembro-me ainda da última interrogação: «não será esta, afinal, a missão de um museu, de todos os museus, isto é, converter um espaço e um conjunto de objetos (materiais ou digitais) numa narrativa sólida e com isso implicar a nossa consciência com o compromisso de mais humanidade nos gestos quotidianos das sociedades?» Saí de Santiago com a convicção reforçada de que os museus e os seus profissionais têm uma responsabilidade, uma missão a cumprir: «humanizar-nos».